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Fernando R. Santiago
colunista do Blog Novas Formas Editorial

sexta-feira, 5 de março de 2010

SUPERAR A VIOLÊNCIA III

Socialismo, Economia Alternativa e Novas Formas de Viver na Sociedade

Revisto em: 05.03.2010

Penso e ouso dizer que o Socialismo, assim como o Comunismo (tudo em comum) como foram sonhados e idealizados por Marx, Engels, antecessores e companheiros contemporâneos jamais aconteceram de fato ou em plenitude.
Embora as idéias tenham sido elaboradas com um grande senso e desejo de Justiça, as forças da realidade mostraram-se preponderantes e impeditivas para a implantação do projeto concreto.
De forma muito resumida lembremos aqui os princípios do socialismo.
Materialismo Histórico Dialético:
MATERIALISMO HISTÓRICO: as relações sociais são inteiramente interligadas às forças produtivas. Com novas forças produtivas, os homens modificam o seu modo de produção, a maneira de ganhar a vida e modificam todas as relações sociais.
O modo pelo qual a produção material de uma sociedade é realizada constitui o fator determinante da organização política e das representações intelectuais de uma época. Assim, a base material ou econômica constitui a "infraestrutura" da sociedade, que exerce influência direta na "super-estrutura", ou seja, nas instituições jurídicas, políticas (as leis, o Estado) e ideológicas (as artes, a religião, a moral) da época. Segundo Marx, a base material é formada por forças produtivas (que são as ferramentas, as máquinas, as técnicas, tudo aquilo que permite a produção) e por relações de produção (relações entre os que são proprietários dos meios de produção, as terras, as matérias primas, as máquinas e aqueles que possuem apenas a força de trabalho).
DIALÉTICA:
"A dialética marxista postula que as leis do pensamento correspondem às leis da realidade. A dialética não é só pensamento: é pensamento e realidade a um só tempo. ... A realidade é contraditória com o pensamento dialético. ... A dialética é ciência que mostra como as contradições podem ser concretamente idênticas, como passam uma na outra, mostrando também porque a razão não deve tomar essas contradições como coisas mortas, petrificadas, mas como coisas vivas, móveis, lutando uma contra a outra em e através de sua luta." conforme(Henri Lefebvre, Lógica formal/ Lógica dialética, trad. Carlos N. Coutinho, 1979, p. 192).
A hipótese fundamental da dialética é de que não existe nada eterno, fixo, pois tudo está em perpétua transformação, tudo está sujeito ao contexto histórico. Outro elemento é a ideia de totalidade, a percepção da realidade social como um todo que está relacionado entre si. Há também as contradições internas da realidade, em relação ao valor e não valor, lucro ou não lucro, por exemplo.
Permito-me apresentar um exemplo, que ajuda a entender a dialética pelo menos de um modo singelo:
uma folha seca que cai de uma árvore certamente é matéria morta, já “prestou o seu serviço” à árvore: alimentação, fotossíntese etc.
Mas quando a folha seca chega ao solo, começa a se deteriorar, se decompor e se transformar em adubo que por sua vez vai alimentar a árvore.
A folha seca é ao mesmo tempo matéria morta e também matéria viva, orgânica.
E mais:
“(obtenha-se...) de cada um segundo suas possibilidades e (dê-se...) a cada um segundo suas necessidades”
Vejam quanta semelhança, no conteúdo, com a parábola de Jesus Cristo, através da qual Ele nos dava o exemplo da contratação de trabalhadores em diferentes horas do dia, porém com pagamentos iguais, conforme Mt 20.
Vejam também a prática dos primeiros cristãos, que repartiam todos os seus bens, conforme as necessidades de cada um, em At 2: 42-45.
Econômicamente, acredito, as propostas dos primeiros cristãos assim como as propostas socialistas para uma sociedade diferente, justa e mais humana, não aconteceram amplamente principalmente porque:
no primeiro caso, de modo solidário os cristãos repartiam seus bens, portanto o que já possuiam, poderíamos dizer, atuavam no consumo e não na produção (certamente em algum momento os bens acabariam);
no segundo caso os meios de produção nunca foram, de fato, propriedade direta dos trabalhadores.
Mesmo na antiga União Soviética, para citar um exemplo, em minha opinião, o que existiu de fato foi um Capitalismo de Estado, onde os meios de produção pertenciam ao Estado e era gerido por um limitado grupo no poder. Portanto, o que o mundo capitalista chamou de comunismo, na verdade não chegou a alcançar o que foi idealizado, embora inegavelmente tenham sido importantes experiências históricas.
Em nossos dias, diversas Experiências Econômicas Alternativas, ou Economia dos Setores Populares ou ainda Economia Popular Solidária como têm sido chamadas, são as atividades que geram trabalho, produtos e renda e são realizadas por vezes de forma individual, mas na maioria dos casos apresentam-se na forma familiar ou associativa e das quais dependem parcelas significativas e crescentes da população.
Essas atividades, embora quase todas pequenas, são experiências organizativas no campo econômico, muitas delas informais e que geram recursos, monetários ou não. São micros, pequenos e vitais empreendimentos econômicos, indispensáveis para a sobrevivência das pessoas envolvidas e de suas famílias.
Elas são diferentes das empresas capitalistas, pois o foco principal não é o lucro em si, ou somente a posse ou propriedade do empreendimento. São diferentes também, porque procuram ser igualitárias nos direitos e nos deveres. O empreendimento é de todos os que trabalham nela, por igual.
Busca-se nessas experiências a convivência fraterna, democrática e a prática solidária.
Em geral as experiências são autogestionárias, ou co-gestionárias, dependendo do seu modo de atuar. Em qualquer dos casos os trabalhadores participam das decisões e partilham os meios de produção e os lucros do empreendimento.
Um grande desafio é chegar a NOVAS FORMAS DE ESTRUTURAÇÃO, de ORGANIZAÇÃO e de INTEGRAÇÃO entre os grupos que realizam as experiências econômicas alternativas, ou seja, realmente de uma economia popular solidária e alternativa.
Seria interessante também a consolidação de NOVAS FORMAS DE COMERCIALIZAÇÃO, com produtos de excelente qualidade, produzidos com respeito à vida e à natureza e, portanto ao meio ambiente, com grupos organizados consumindo produtos de outros grupos e redes também organizadas, crescendo cada vez mais e mais e fortalecendo desta maneira uns aos outros, FORMANDO UMA GRANDE REDE, visualmente nos fazendo lembrar de uma rede, rede mesmo, aquela dos pescadores.
Em parte, algumas experiências em algumas regiões do país, já fazem isto.
Finalizando estas reflexões, podemos afirmar que é pouquíssimo provável que haja Justiça sem a prática da solidariedade, da partilha, da fraternidade, do respeito e do amor ao outro ou que essa Justiça aconteça por imposição ou determinação autoritária de alguém ou de um grupo.
É impossível haver Paz sem Justiça!
É possível superar a violência gerada pela Economia!

Fernando Santiago
Colunista
Novas Formas Editorial